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COLECIONADOR

Carlos Augusto Lira é um dos mais reconhecidos arquitetos pernambucanos, com quase cinco décadas de atividade profissional e projetos em Pernambuco, em outros estados e fora do Brasil. Iniciado na Arquitetura ainda dentro do Movimento de Arte Conceitual dos anos 70, que reagia ao formalismo da arte, ele traz a marca da ousadia. Porém, alia a esta característica um traço marcante de sua personalidade: o gosto em agradar. Sendo assim, em seus ambientes, o impacto de alguns itens marcantes é amortecido por um arranjo acolhedor.
Avesso a modismos, mas simpatizante de inovações, persegue, como arquiteto, a atemporalidade em seus projetos. Entre peculiares em sua prancheta, a facilidade no aproveitamento de móveis e objetos já existentes. Uma visão contemporânea que evita desperdícios, reverencia gostos e afetividades dos contratantes e dá personalidade a cada trabalho.
Em criança, era com brinquedos de lata, madeira e barro, adquiridos em feiras livres, que se divertia. Isso o emprenhou de uma forte memória afetiva ante esses objetos, alicerce de seu futuro como colecionador.
Ainda jovem, se revelou apaixonado pelo desenho, e esse olhar se firmou, em especial, para a arte popular brasileira. Para ele, o que importa é a capacidade de comunicação do artista popular, independente de ser esta arte sacra ou profana, antiga ou nova, rústica ou delicada.
Começou adquirir peças logo que se se formou, em 1971, pela Universidade Federal de Pernambuco. Nesta época, os resultados do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco (MCP), dissolvido pelo regime militar, desabrochava seus bons frutos. Sua casa passou a abrigar peças de nomes hoje integrantes de um verdadeiro olimpo de artistas populares brasileiros.
Passados quarenta anos e mais de cinco mil peças adquiridas, em 2017 ele as catalogou e, agora em 2018, as colocou à disposição do público. O seu escritório de Arquitetura, na charmosa Praça de Casa Forte, no Recife, foi acomodado no primeiro andar do endereço.
Toda a área do piso térreo, incluindo jardins, deu espaço ao Instituto Lira. Aberto provisoriamente apenas a grupos convidados, ele apresenta uma seleção das peças de arte popular, sendo a outra parte dividia entre sua residência, em Apipucos, e a reserva técnica, no Cordeiro, ambos bairros no Recife.
Sua proposta com o instituto é contribuir na valorização do artista e servir como fonte de pesquisa. Carlos Augusto Lira acredita que o reconhecimento ao artista e sua obra é vital para o surgimento de novos valores e a perpetuação da arte popular.